A ASNAB Nacional não coaduna e discorda veementemente dos termos da entrevista do ex-diretor da Conab Sérgio De Zen publicada no dia 14 de dezembro de 2022, no jornal Valor Econômico.

O ex-diretor da Diretoria de Informações Agropecuárias e Políticas Agrícolas da Conab (Dipai) foi protagonista de uma gestão atabalhoada; sem diálogo com os empregados vinculados à diretoria de sua responsabilidade; invadindo temas que não lhe diziam respeito; tensionando as áreas; e criticando a Conab em inúmeras reuniões internas e externas, além de entrevistas em que participou, querendo se promover às custas da companhia e de olho no mercado privado. Fato esse confirmado, pois o mesmo mercado agora o acolhe pelos serviços prestados, ao aceitar o convite para ser o diretor de estratégia empresarial global de uma grande multinacional de proteína animal, como a própria matéria relata.

Tal intenção configura o desrespeito à Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013, que dispõe sobre o conflito de interesses no exercício de cargo ou emprego do Poder Executivo Federal e impedimentos posteriores ao exercício do cargo ou emprego.

Outrossim, em sua primeira entrevista como diretor, De Zen mostrou o despreparo para o cargo e descomprometimento com a coisa pública, ao atribuir o aumento dos preços dos alimentos ao aumento do consumo interno (no início da pandemia de Covid-19), desconsiderando o fato de que o Brasil havia exportado parte significativa da sua produção para a China e mercados internacionais. Deixando os estoques reguladores da Conab em níveis próximos de zero.

Ao dizer ao Valor Econômico que a companhia centrou em compras institucionais e ações de segurança alimentar, o ex-diretor falta com a verdade, dado que sua gestão tirou totalmente a importância que a agricultura familiar possuía na Conab. Nenhuma ação foi realizada para fortalecer a modalidade de compras institucionais do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), tão pouco para as outras modalidades deste programa.

Os números de execução são públicos.
As reestruturações internas promovidas pelo ex-diretor deixaram as áreas sem sinergia (três diferentes estruturas organizacionais em 4 anos). Foram descontinuadas ações de fortalecimentos dos setores da agricultura familiar e da sociobiodiversidade, sendo seu legado desastroso quando consideramos a agricultura familiar nos termos da Lei 11.326/2006.

A antiga gestão da Dipai não trabalhou para recomposição do quadro funcional, esvaziado por dois Programas de Demissão Voluntária; deslegitimaram empregados com anos de serviços prestados para a sociedade brasileira com transferências autoritárias; e tampouco contribuiu para avanços em políticas públicas sob seu mandato, como a atualização dos preços mínimos, novos instrumentos de combate à fome e recomposição de estoques públicos de alimentos, por exemplo. O tema recorrente era sempre soja, milho e carne, com foco para informações ao “mercado”, ficando de lado a alimentação básica da população brasileira.

Tudo isso retirou da Conab o protagonismo nas ações de combate à fome que, somado ao desmonte de outras estruturas na administração direta, contribuíram para que o Brasil voltasse ao mapa da Fome, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). São 33 milhões de pessoas que não têm o que comer e outras 65 milhões em situação de vulnerabilidade alimentar.

O desmonte só não foi maior porque as mudanças maiores vieram já no final do atual governo e os empregados da Conab, ciosos de seu papel de Estado, serão capazes de reestabelecer o verdadeiro papel da Conab e recolocá-la nos trilhos.

Finalmente, em outra entrevista, dada ao Canal Rural, De Zen defende ser uma oportunidade para a Conab a possibilidade de criação de um ministério para tratar da agricultura familiar e outros temas sociais, dividindo a companhia em duas partes, em que a parte de informações ficaria no Ministério da Agricultura e todo o remanescente na nova pasta, que, no nosso entender é mais um equívoco do ex-diretor que não percebe que isso enfraqueceria a estatal.